terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Incisões no Flamboyant

Caros colegas,

Este texto foi com intuito de elucidar algumas observações minhas com relação a modelagem da espécie Delonix regia.
As fotos vão ser refeitas ainda, mas gostaria de ir pegando as opiniões de vocês, para melhorar o mesmo, ok ?

Abraços,



TÉCNICAS PARA MODELAGEM DE UM FLAMBOYANT - Delonix regia

Texto: Cláudio C. Ratto
Fotos: Marileda

Nome comum: Flamboyant ou Flaboiant
Nome científico: Delonix regia
Família: Fabaceae Caesalpinioideae, Caesalpineae
Origem: Madagascar
Etimologia: Delonix, do grego delos, evidente, notável e onus, uma, referindo-se as pétalas notavelmente unguiculados. Regia, do latim regium-a-um, real, pela sua grandiosidade quando está em flor.
Floração: setembro/dezembro.

Árvore de flores exuberantes com tonalidade avermelhada, de copa frondosa e espalhada que proporciona boa sombra. Suas raízes tabulares (formato de tábua) crescem junto à base do tronco, conferindo um aspecto notável à espécie. É muito utilizada em amplas áreas, como praças e jardins.

Descrição: Árvore caducifólia de 6-15 m de altura, com a copa em forma de sombreiro e o tronco mostrando-se sinuoso ou reto e pouco áspero. Folhas bipinadas de 20-40 cm de comprimento, com 10-15 pares de pinas, cada uma tem de 12-20 pares de folíolos oblongos, de ápice e base arredondada, de cor verde claro a verde escuro. Flores vermelhas / alaranjadas, aparecem quando a árvore carece de folhas e estas se dispõem lateralmente nos ramos. Cada flor mede 10-12 cm de diâmetro e tem um cálice com 5 sépalas hirsutas, a corola com 5 pétalas desiguais e um androceu com 10 estames largos, delgados, de cor vermelha. Os frutos são muito coreáceo, de 40-50 cm de comprimento, plano e retorcidos de cor castanho quando maduro. Estes permanecem presos a árvore durante todo o ano. 



INTRODUÇÃO –


Sempre ouvia dizer que um flamboyant não era uma das espécies mais indicadas para se trabalhar como bonsai e era por isso que não víamos exemplares como bonsai. Diziam que era pelo motivo dela ter folhas e flores grandes, galhos que secavam do nada e um lenho muito duro, difícil de modelar com o arame. Me via por conta disso intrigado, pois para mim seria uma das espécies com as quais gostaria de ter como bonsai desde o início. Também não existiam imagens nem tão pouco técnicas relacionadas, que iriam me orientar para fazer de um flamboyant bonsai. Então como fazer ?
Bem, o como fazer seria tentando, aplicando o pouco que sei no bonsai e muita observação e paciência, que na verdade uma das virtudes ou qualidades que temos que adquirir para desenvolver a arte do bonsai.
A abordagem relacionada as técnicas de tração e incisões iram mostrar como de fato não podemos nos deixar abater e sim seguirmos em frente, pois com muita perseverança, muita observação e principalmente colocando a mão na massa é que conseguimos aprender algo de novo.



TÉCNICA DA TRAÇÃO DO GALHO –

A técnica da tração empregada no Flamboiant foi quase uma conseqüência, devido as características da espécie. Diversos exemplares que vemos plantados em praças e avenidas pelo Brasil, apresentam em sua forma original galhos pendidos, dando a copa da árvore uma forma de sombreiro. Outras característica dada para a espécie seria um lenho de baixa durabilidade aos intempéries naturais e a morte espontânea de alguns galhos. Estes secam naturalmente e caem cedendo o lugar a um novo que irá em busca de um lugar ao sol. Isso acontece tanto em espécies plantadas no chão quanto nos bonsai, pois é da natureza da espécie.

Foi a partir dessas observações dos exemplares em tamanho natural, que a técnica da tração foi concebida, pois ao se tentar reproduzir o aspecto de um exemplar de tamanho natural foi feito inicialmente uma aramação completa nos galhos e esta por sua vez deixava marcas profundas na hora de modelar, devido ao tipo de lenho duro e também obstruía o aparecimento das novas gemas quando posicionamos os galhos para baixo. Para tanto, foi deixando a margem do galho apontado para baixo, como se fosse uma bengala, é que apareceram os brotos no dorso/lateral neste galho. A tração por sua vez mostrou-se que a margem do galho secava, enquanto mais para o interior do galho surgiam novos brotos. O fato disso acontecer é devido ao hormônio de crescimento da planta, se localizando em áreas onde há influência da luz solar. O modo que a auxina atua nesta espécie. A auxina nada mais é do que o hormônio vegetal encontrado em diversas espécies de plantas e ela, assim como outros hormônios, são responsáveis pelo crescimento. Então este se concentra na parte mais superior da planta, pois ele é que a faz crescer sempre em busca de um melhor lugar ao sol. As margens da planta mais exposta ao sol ficam repletas desse hormônio e assim os novos brotos vão surgindo e a planta conseqüentemente vai crescendo.
Ao excluirmos o arame de boa parte do galho fazendo somente uma tração deste, é que conseguimos um melhor modo para modelarmos a parte aérea de um flamboyant e com as trações sucessivas, vamos começando a multiplicação ou dicotomia dos galhos. Pode-se enrolar o arame na extremidade deste galho para dar mais pega, prendendo a outra extremidade na borda do vaso. Isso irá ajudar o surgimento de novos brotos, futuros galhos, mais para o interior e no dorso desse galho. Depois que estes estiverem consolidados são podadas as extremidades dos galhos até onde esteja seco, ou mesmo pode-se podar próximo a esses novos galhos.
Esta técnica com certeza é a mais correta para esta espécie e fazendo-a sucessivamente a compactação irá aparecer e os cortes fecharão com mais facilidade.




  
Durante o processo de modelagem, quanto mais estimulamos uma nova brotação para que surjam mais galhos, ficamos sem a floração. Porém este é a melhor maneira para conseguirmos um exemplar em escala compatível para bonsai sem cicatrizes e também fazendo uma comparação com uma poda drástica, a técnica da tração se mostra menos agressiva a planta e não deixa cicatrizes. Esta só é empregada depois que os galhos estão consolidados. Provavelmente alguns desses galhos novos irão sucumbir, pois é assim a natureza dessa espécie. Essa modelagem é realizada no inverno, pois os galhos estarão mais maleáveis e a folhagem mais fraca. Uma outra opção, seria quando eles estivessem com a coloração mais amarronzada, mas nunca enrole o arame nesses galhos por completo, pois o mesmo irá criar feridas e em alguns casos cicatrizes muito feias difíceis de serem corrigidas e também irá prejudicar o surgimento das gemas.

Uma outra técnica empregada no bonsai, seria o de se retirar a gema apical, para se estimular novas brotações, mas como vimos anteriormente, futuramente teremos que posiciona-los para baixo para reproduzirmos o aspecto que a espécie oferece, que é de sombreiro. Então perderíamos a margem do galho e esse não seria o melhor método para modelagem como bonsai. É melhor fazer de fato a tração, pois estimula o crescimento de novos brotos no dorso/lateral do galho tracionado.
Outro fato interessante, é quando a desfolha. Ao se retirar a folha por completo, retirando a haste(pecíolo) também, dificulta ainda mais o surgimento de novos brotos, não sendo a melhor maneira para se conseguir um maior número de galhos (dicotomia) e compactação da folhagem. Na maioria das vezes observa-se que os galhos pinçados secam também. A melhor maneira então é podar as folhas no outono deixando a haste e controlando as regas para que consigamos a compactação das folhas.
 

  

Para finalizar, todo bonsaista sabe que a dicotomia se dá quando podamos os galhos ou o tronco, mas para esta espécie esta simples técnica não funciona, ou seja, como vimos nas explicações acima a tração seria a melhor alternativa.


TÉCNICA DAS INCISÕES –

As incisões na base, são realizadas para se conseguir imitar com fidelidade as raízes tabulares ou projeções basais que ocorrem nos exemplares em tamanho natural de um flamboyant. Essas são feitas durante a fase ativa da planta, respeitando o sentido das raízes laterais. São escolhidas apenas umas 5 raízes laterais para fazer o nebari. Porém antes de faze-la, tem que se retirar a raiz “pivotante” e outras que estão indo para baixo. As incisões ou riscos tem que estar alinhados com as raízes e são feitos longitudinalmente. Esses riscos não irão estimular o surgimento de novas raízes e sim a cicatrização no local. Para tanto, deixe a área riscada acima do solo, já as raízes, podem ficar enterradas até que consigamos obter as projeções desejadas. Quanto ao comprimento destas incisões ou riscos, é de acordo com o gosto de cada um.
 


 
  
Incisão cicatrizada e início da formação da projeção basal


Não é necessário fazer uso de qualquer tipo de cicatrizante, apenas tome esse procedimento salvo a planta estar em bom estado de saúde. Espere inchar e cicatrizar para depois repetir novamente a operação. Temos que esperar fechar (cicatrizar) o corte para fazermos novamente. Até que isso aconteça, podemos observar que os cortes vão apresentar uma coloração diferenciada do tronco. Quando estiver tudo igual faça novamente as incisões nos mesmos locais respeitando a fase ativa da planta. Melhor deixar ele praticamente fechar a cicatriz, para poder ter tecido vivo para cortar. Utilize um bisturi ou mesmo um estilete para fazer as incisões. Depois que houver a cicatrização, obviamente não aparecerá o corte que se fez e só depois disso é que fazemos de novo. Notamos que formará uma projeção na parte basal do tronco, então teremos que repetir essas incisões até que fiquem bem proeminentes, bem parecidos com as raízes tabulares de uma planta em tamanho natural. As incisões são realizadas uma vez por ano, respeitando o ciclo anual. Escolha os exemplares que estão com pelo menos uns 2 cm de diâmetro ou os que já estão com casca no tronco. Pode-se fazer este tipo de trabalho quando a planta sair do estágio de dormência ou em plena atividade e faça se ela estiver com saúde. Porém não faça ainda nas raízes. Mantenha elas recobertas com o solo e chegue bem perto, mas não faça ainda as incisões. Quando sua planta estiver mais desenvolta quanto as projeções, ai sim que iremos fazer nas raízes, pois a planta está gerando tecidos novos para "cobrir" a ferida anterior e ao contato com o solo estas ficariam vulneráveis a contaminação. Essa cicatrização faz o caule ficar mais grosso nesse ponto e ao mesmo tempo as raízes que estão enterradas vão engrossando.
Para imitar o nebari de um Flamboiant, é necessário fazer incisões sucessivas nas áreas pré-determinadas, conforme escrevi anteriormente, que é respeitando o sentido das raízes laterais. Não se preocupe de fazer uma incisão profunda, desde que o exemplar não seja muito pequeno. Quando for fazer a próxima troca de solo e vendo que já existem calosidades na base, que são as projeções basais que falo, pode reduzir bem o volume das raízes. Com isso conseguimos uma maior redução, ou compactação, das folhas. Faça no final do inverno início da primavera e quando chegar no outono, retire todas as folhas deixando apenas as hastes que as sustentam os pecíolos.
Com isso e controlando as regas, mais compactação iremos conseguir com relação a folhagem. As incisões tem que ser realizadas quando a planta estiver em plena atividade, que compreende os meses mais quentes do ano. No inverno não é conveniente tomar esse procedimento, pois a planta está com o seu metabolismo baixo.



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